A saúde oral e a demência é uma ligação que não pode ser ignorada
Nos últimos anos, a ciência tem mostrado que a saúde oral vai muito além da boca. As doenças da cavidade oral, como a periodontite ou a perda dentária, estão associadas a diversas condições sistémicas, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes e, mais recentemente, declínio cognitivo e demência.
A relação entre saúde oral e saúde geral
Nos últimos anos, a ciência tem mostrado que a saúde oral vai muito além da boca. As doenças da cavidade oral, como a periodontite ou a perda dentária, estão associadas a diversas condições sistémicas, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes e, mais recentemente, declínio cognitivo e demência.
Um comentário publicado no BMJ (2025) reforça precisamente esta ligação: a saúde oral merece maior atenção nas estratégias de envelhecimento saudável, sobretudo porque a evidência existente apoia a associação entre doenças orais e declínio cognitivo.
Demência e envelhecimento é um desafio crescente
A demência é atualmente um dos maiores desafios de saúde pública a nível mundial. Embora a sua incidência esteja a diminuir em alguns países desenvolvidos, a prevalência continua a aumentar, devido ao envelhecimento populacional.
Isto significa que vivemos mais anos, mas com maior risco de desenvolver doenças neurodegenerativas como Alzheimer e outras formas de demência.
O que diz a ciência sobre a ligação saúde oral - demência?
A evidência científica aponta várias hipóteses para explicar esta relação:
Inflamação crónica: doenças periodontais geram um estado inflamatório persistente, que pode afetar o cérebro.
Bactérias orais e disbiose: microrganismos associados à periodontite, como Porphyromonas gingivalis, já foram encontrados em tecido cerebral de doentes com Alzheimer.
Perda dentária e mastigação: a ausência de dentes dificulta a mastigação e pode reduzir a estimulação cerebral, associando-se a maior risco de declínio cognitivo.
Impacto nutricional: dificuldade em mastigar alimentos saudáveis pode levar a dietas menos equilibradas, afetando a saúde cerebral.
Estudos longitudinais têm demonstrado que pessoas com má saúde oral apresentam maior risco de desenvolver demência (Wu et al., J Am Geriatr Soc, 2024; Kamer et al., Alzheimers Dement, 2023).
Implicações para a saúde pública e clínica
À medida que a população envelhece, torna-se claro que a saúde oral deve ser parte integrante dos programas de envelhecimento saudável. O rastreio e a prevenção das doenças orais em idosos não são apenas uma questão estética ou de conforto - são uma medida essencial de saúde global.
Na prática clínica, isto significa:
Consultas regulares de medicina dentária e medicina oral em idosos.
Vigilância reforçada em doentes com fatores de risco para demência.
Promoção de hábitos de higiene oral e de uma alimentação saudável em todas as fases da vida.
O papel da ImedGaia
Na ImedGaia acreditamos que a medicina deve ser vista de forma integrada. Ao cuidar da sua saúde oral, está também a proteger o seu cérebro e a sua qualidade de vida futura.
Cuidar da boca é cuidar da mente.
Marque a sua consulta e fale connosco sobre prevenção oral em todas as fases da vida, incluindo o envelhecimento.
Referências científicas
Chu C. Burden of dementia: oral health needs attention. BMJ 2025;390:r1696.
Wu B, et al. Oral health and risk of dementia in older adults: a longitudinal study. J Am Geriatr Soc. 2024.
Kamer AR, et al. Periodontal disease and cognitive decline: mechanisms and clinical evidence. Alzheimers Dement. 2023.
Chen CK, et al. Tooth loss, mastication, and dementia: a meta-analysis. J Dent Res. 2022.
Síndrome da Boca Ardente
A Síndrome da Boca Ardente (BMS, do inglês Burning Mouth Syndrome) é uma condição caracterizada por uma sensação persistente de ardor ou dor na boca, sem que existam lesões visíveis. Afeta sobretudo mulheres a partir da menopausa, mas pode surgir em qualquer idade.
Sintomas, causas e opções de tratamento
O que é a Síndrome da Boca Ardente?
A Síndrome da Boca Ardente (BMS, do inglês Burning Mouth Syndrome) é uma condição caracterizada por uma sensação persistente de ardor ou dor na boca, sem que existam lesões visíveis. Afeta sobretudo mulheres a partir da menopausa, mas pode surgir em qualquer idade.
É considerada uma condição neuropática, ou seja, está ligada a alterações na forma como os nervos transmitem a sensação de dor. Embora não ponha a vida em risco, pode afetar seriamente a qualidade de vida.
Principais sintomas
Ardor na língua, lábios, palato ou em toda a boca
Sensação de secura (mesmo quando a saliva está normal)
Alterações no paladar (gosto metálico ou amargo)
Formigueiro ou dormência
Desconforto que tende a piorar ao longo do dia, mas melhora durante o sono
Segundo a International Classification of Headache Disorders (ICHD-3), o diagnóstico requer sintomas diários durante pelo menos 3 meses e com duração de 2 ou mais horas por dia.
Possíveis causas
Em muitos casos, a BMS é primária (sem causa identificável clara). Noutros, é secundária, podendo estar associada a:
Deficiências nutricionais (ferro, vitamina B12, ácido fólico, zinco)
Diabetes ou alterações da tiroide
Candidíase oral
Xerostomia (boca seca por diminuição da saliva ou fármacos)
Refluxo gastroesofágico
Alterações hormonais (particularmente na menopausa)
Stress, ansiedade ou depressão
Como é feito o diagnóstico?
Não existe um exame específico para a Síndrome da Boca Ardente. O diagnóstico é feito por exclusão, após uma avaliação clínica detalhada e exames laboratoriais para despistar outras causas.
Por isso, é importante consultar um especialista em Medicina Oral ou Dor Orofacial para uma avaliação completa.
Opções de tratamento
O tratamento deve ser individualizado e depende de existir ou não uma causa identificável.
Quando há causa secundária
Trata-se diretamente o problema de base (ex.: corrigir défices vitamínicos, tratar candidíase, ajustar medicação).
Quando é BMS primária
As opções incluem:
Clonazepam (em comprimidos de baixa dose ou solução tópica, aplicado na boca) - um dos tratamentos com maior evidência científica.
Fotobiomodulação (laser de baixa intensidade) - pode reduzir a dor em muitos pacientes.
Capsaicina tópica - aplicada sob controlo médico, pode dessensibilizar os nervos envolvidos.
Ácido α-lipóico (ALA) - antioxidante com resultados variáveis.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) - importante para reduzir o impacto da dor crónica.
Medicação neuromoduladora (como antidepressivos ou anticonvulsivantes) - em casos refratários e sempre sob indicação médica.
Viver com a Síndrome da Boca Ardente
Embora não exista uma cura definitiva, muitos pacientes conseguem controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida com acompanhamento especializado e plano terapêutico adequado.
Estudos recentes confirmam que a abordagem multimodal (combinar terapias farmacológicas, psicológicas e locais) é a que oferece melhores resultados.
Quando procurar ajuda?
Se sente ardor persistente na boca, não ignore os sintomas. Quanto mais cedo fizer a avaliação do problema, maior a probabilidade de identificar e tratar uma causa subjacente ou iniciar terapias de alívio eficazes.
Marque a sua consulta na ImedGaia. Estamos preparados para avaliar o seu caso de forma personalizada e encontrar consigo a melhor solução.
Referências científicas
International Classification of Headache Disorders (ICHD-3).
Tan HL, et al. Systematic review of treatments for burning mouth syndrome.
Kouri M, et al. Small Fiber Neuropathy in BMS: A systematic review.
Recent network meta-analyses (2022–2024) sobre eficácia de clonazepam, laser e terapias combinadas.
Dor Oral
A dor orofacial é uma das razões mais frequentes para a procura de cuidados clínicos e tem um impacto significativo na qualidade de vida. Pode resultar de patologias dentárias (cárie, pulpites reversíveis ou irreversíveis, hipersensibilidade dentinária) ou de disfunções neurossensoriais (neuralgias, dores neuropáticas ou nociplásticas). O diagnóstico diferencial é crucial, uma vez que “a interpretação errada da origem da dor pode levar a diagnóstico incorreto e consequente má gestão”.
A dor orofacial é uma das razões mais frequentes para a procura de cuidados clínicos e tem um impacto significativo na qualidade de vida. Pode resultar de patologias dentárias (cárie, pulpites reversíveis ou irreversíveis, hipersensibilidade dentinária) ou de disfunções neurossensoriais (neuralgias, dores neuropáticas ou nociplásticas) (PMC). O diagnóstico diferencial é crucial, uma vez que “a interpretação errada da origem da dor pode levar a diagnóstico incorreto e consequente má gestão” (PMC).
Classificação e Avaliação
A dor orofacial deve ser compreendida de forma multidimensional, integrando fatores biológicos, psicológicos e sociais. Para uma avaliação adequada, utilizam-se escalas subjetivas, questionários e registos clínicos de dor, adaptados ao contexto do paciente (MDPI).
Manejo Farmacológico
Em situações de dor oral aguda, como após extrações dentárias, as recomendações internacionais apontam os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) - como ibuprofeno ou naproxeno, isolados ou em combinação com paracetamol - como terapia de primeira linha (ScienceDirect).
Uma meta-análise demonstrou que a associação de ibuprofeno e paracetamol é mais eficaz no controlo da dor do que o placebo (PubMed).
Dor em Cirurgia Oral e Contextos Específicos
Na cirurgia oral e na implantologia, a dor é esperada como resposta fisiológica, mas envolve mecanismos fisiopatológicos complexos. O controlo deve ser individualizado e orientado pelos padrões de resposta à dor de cada paciente (PubMed).
Ansiedade e Dor Oral
A ansiedade influencia diretamente a perceção da dor em contexto odontológico. A literatura evidencia que estratégias combinadas - farmacológicas e não farmacológicas (como terapias cognitivo-comportamentais, técnicas de distração ou música) - proporcionam melhores resultados no controlo da dor (PubMed).
Revisões e Tratamentos Emergentes
Em periodontologia, análises recentes reforçam a importância de personalizar os protocolos (anestésicos, anti-inflamatórios ou combinados), considerando fatores como idade, tipo de procedimento e ansiedade do paciente, para garantir maior conforto e eficácia (PubMed).
Na odontopediatria, têm surgido novas abordagens para tornar a anestesia mais confortável, como sprays intranasais, jet injectors e dispositivos vibratórios, que apresentam resultados promissores na redução da dor e da ansiedade em crianças (PubMed).
Em situações de dor oral aguda, o uso de metoxiflurano inalatório tem sido estudado como alternativa de alívio rápido, embora ainda seja necessária mais investigação antes da sua adoção generalizada (JOMOS).
Referências Principais
Labanca M. Orofacial Pain and Dentistry Management – diagnóstico diferencial (PMC)
Green VG et al. Guidelines for pharmacologic management of acute dental pain (2025) (ScienceDirect)
Carrasco-Labra A et al. ADA clinical guideline for acute dental pain in children (2023) (JADA)
Raja J et al. Anxiety and Pain Management in Dental Patients (2025) (PubMed)
Remi RV et al. New approaches to pain control in pediatric dentistry (2023) (PubMed)