Rui Amaral Mendes Rui Amaral Mendes

A saúde oral e a demência é uma ligação que não pode ser ignorada

Nos últimos anos, a ciência tem mostrado que a saúde oral vai muito além da boca. As doenças da cavidade oral, como a periodontite ou a perda dentária, estão associadas a diversas condições sistémicas, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes e, mais recentemente, declínio cognitivo e demência.

A relação entre saúde oral e saúde geral

Nos últimos anos, a ciência tem mostrado que a saúde oral vai muito além da boca. As doenças da cavidade oral, como a periodontite ou a perda dentária, estão associadas a diversas condições sistémicas, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes e, mais recentemente, declínio cognitivo e demência.

Um comentário publicado no BMJ (2025) reforça precisamente esta ligação: a saúde oral merece maior atenção nas estratégias de envelhecimento saudável, sobretudo porque a evidência existente apoia a associação entre doenças orais e declínio cognitivo.

Demência e envelhecimento é um desafio crescente

A demência é atualmente um dos maiores desafios de saúde pública a nível mundial. Embora a sua incidência esteja a diminuir em alguns países desenvolvidos, a prevalência continua a aumentar, devido ao envelhecimento populacional.

Isto significa que vivemos mais anos, mas com maior risco de desenvolver doenças neurodegenerativas como Alzheimer e outras formas de demência.

O que diz a ciência sobre a ligação saúde oral - demência?

A evidência científica aponta várias hipóteses para explicar esta relação:

  • Inflamação crónica: doenças periodontais geram um estado inflamatório persistente, que pode afetar o cérebro.

  • Bactérias orais e disbiose: microrganismos associados à periodontite, como Porphyromonas gingivalis, já foram encontrados em tecido cerebral de doentes com Alzheimer.

  • Perda dentária e mastigação: a ausência de dentes dificulta a mastigação e pode reduzir a estimulação cerebral, associando-se a maior risco de declínio cognitivo.

  • Impacto nutricional: dificuldade em mastigar alimentos saudáveis pode levar a dietas menos equilibradas, afetando a saúde cerebral.

Estudos longitudinais têm demonstrado que pessoas com má saúde oral apresentam maior risco de desenvolver demência (Wu et al., J Am Geriatr Soc, 2024; Kamer et al., Alzheimers Dement, 2023).

Implicações para a saúde pública e clínica

À medida que a população envelhece, torna-se claro que a saúde oral deve ser parte integrante dos programas de envelhecimento saudável. O rastreio e a prevenção das doenças orais em idosos não são apenas uma questão estética ou de conforto - são uma medida essencial de saúde global.

Na prática clínica, isto significa:

  • Consultas regulares de medicina dentária e medicina oral em idosos.

  • Vigilância reforçada em doentes com fatores de risco para demência.

  • Promoção de hábitos de higiene oral e de uma alimentação saudável em todas as fases da vida.

O papel da ImedGaia

Na ImedGaia acreditamos que a medicina deve ser vista de forma integrada. Ao cuidar da sua saúde oral, está também a proteger o seu cérebro e a sua qualidade de vida futura.

Cuidar da boca é cuidar da mente.

Marque a sua consulta e fale connosco sobre prevenção oral em todas as fases da vida, incluindo o envelhecimento.

 

Referências científicas

  1. Chu C. Burden of dementia: oral health needs attention. BMJ 2025;390:r1696.

  2. Wu B, et al. Oral health and risk of dementia in older adults: a longitudinal study. J Am Geriatr Soc. 2024.

  3. Kamer AR, et al. Periodontal disease and cognitive decline: mechanisms and clinical evidence. Alzheimers Dement. 2023.

  4. Chen CK, et al. Tooth loss, mastication, and dementia: a meta-analysis. J Dent Res. 2022.

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Síndrome da Boca Ardente

A Síndrome da Boca Ardente (BMS, do inglês Burning Mouth Syndrome) é uma condição caracterizada por uma sensação persistente de ardor ou dor na boca, sem que existam lesões visíveis. Afeta sobretudo mulheres a partir da menopausa, mas pode surgir em qualquer idade.

Sintomas, causas e opções de tratamento

O que é a Síndrome da Boca Ardente?

A Síndrome da Boca Ardente (BMS, do inglês Burning Mouth Syndrome) é uma condição caracterizada por uma sensação persistente de ardor ou dor na boca, sem que existam lesões visíveis. Afeta sobretudo mulheres a partir da menopausa, mas pode surgir em qualquer idade.

É considerada uma condição neuropática, ou seja, está ligada a alterações na forma como os nervos transmitem a sensação de dor. Embora não ponha a vida em risco, pode afetar seriamente a qualidade de vida.

Principais sintomas

  • Ardor na língua, lábios, palato ou em toda a boca

  • Sensação de secura (mesmo quando a saliva está normal)

  • Alterações no paladar (gosto metálico ou amargo)

  • Formigueiro ou dormência

  • Desconforto que tende a piorar ao longo do dia, mas melhora durante o sono

Segundo a International Classification of Headache Disorders (ICHD-3), o diagnóstico requer sintomas diários durante pelo menos 3 meses e com duração de 2 ou mais horas por dia.

Possíveis causas

Em muitos casos, a BMS é primária (sem causa identificável clara). Noutros, é secundária, podendo estar associada a:

  • Deficiências nutricionais (ferro, vitamina B12, ácido fólico, zinco)

  • Diabetes ou alterações da tiroide

  • Candidíase oral

  • Xerostomia (boca seca por diminuição da saliva ou fármacos)

  • Refluxo gastroesofágico

  • Alterações hormonais (particularmente na menopausa)

  • Stress, ansiedade ou depressão

Como é feito o diagnóstico?

Não existe um exame específico para a Síndrome da Boca Ardente. O diagnóstico é feito por exclusão, após uma avaliação clínica detalhada e exames laboratoriais para despistar outras causas.

Por isso, é importante consultar um especialista em Medicina Oral ou Dor Orofacial para uma avaliação completa.

Opções de tratamento

O tratamento deve ser individualizado e depende de existir ou não uma causa identificável.

Quando há causa secundária

Trata-se diretamente o problema de base (ex.: corrigir défices vitamínicos, tratar candidíase, ajustar medicação).

Quando é BMS primária

As opções incluem:

  • Clonazepam (em comprimidos de baixa dose ou solução tópica, aplicado na boca) - um dos tratamentos com maior evidência científica.

  • Fotobiomodulação (laser de baixa intensidade) - pode reduzir a dor em muitos pacientes.

  • Capsaicina tópica - aplicada sob controlo médico, pode dessensibilizar os nervos envolvidos.

  • Ácido α-lipóico (ALA) - antioxidante com resultados variáveis.

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) - importante para reduzir o impacto da dor crónica.

  • Medicação neuromoduladora (como antidepressivos ou anticonvulsivantes) - em casos refratários e sempre sob indicação médica.

Viver com a Síndrome da Boca Ardente

Embora não exista uma cura definitiva, muitos pacientes conseguem controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida com acompanhamento especializado e plano terapêutico adequado.

Estudos recentes confirmam que a abordagem multimodal (combinar terapias farmacológicas, psicológicas e locais) é a que oferece melhores resultados.

 

Quando procurar ajuda?

Se sente ardor persistente na boca, não ignore os sintomas. Quanto mais cedo fizer a avaliação do problema, maior a probabilidade de identificar e tratar uma causa subjacente ou iniciar terapias de alívio eficazes.

Marque a sua consulta na ImedGaia. Estamos preparados para avaliar o seu caso de forma personalizada e encontrar consigo a melhor solução.

 

Referências científicas

  • International Classification of Headache Disorders (ICHD-3).

  • Tan HL, et al. Systematic review of treatments for burning mouth syndrome.

  • Kouri M, et al. Small Fiber Neuropathy in BMS: A systematic review.

  • Recent network meta-analyses (2022–2024) sobre eficácia de clonazepam, laser e terapias combinadas.

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Dor Oral

A dor orofacial é uma das razões mais frequentes para a procura de cuidados clínicos e tem um impacto significativo na qualidade de vida. Pode resultar de patologias dentárias (cárie, pulpites reversíveis ou irreversíveis, hipersensibilidade dentinária) ou de disfunções neurossensoriais (neuralgias, dores neuropáticas ou nociplásticas). O diagnóstico diferencial é crucial, uma vez que “a interpretação errada da origem da dor pode levar a diagnóstico incorreto e consequente má gestão”.

A dor orofacial é uma das razões mais frequentes para a procura de cuidados clínicos e tem um impacto significativo na qualidade de vida. Pode resultar de patologias dentárias (cárie, pulpites reversíveis ou irreversíveis, hipersensibilidade dentinária) ou de disfunções neurossensoriais (neuralgias, dores neuropáticas ou nociplásticas) (PMC). O diagnóstico diferencial é crucial, uma vez que “a interpretação errada da origem da dor pode levar a diagnóstico incorreto e consequente má gestão” (PMC).

 

Classificação e Avaliação

A dor orofacial deve ser compreendida de forma multidimensional, integrando fatores biológicos, psicológicos e sociais. Para uma avaliação adequada, utilizam-se escalas subjetivas, questionários e registos clínicos de dor, adaptados ao contexto do paciente (MDPI).

 

Manejo Farmacológico

Em situações de dor oral aguda, como após extrações dentárias, as recomendações internacionais apontam os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) - como ibuprofeno ou naproxeno, isolados ou em combinação com paracetamol - como terapia de primeira linha (ScienceDirect).
Uma meta-análise demonstrou que a associação de ibuprofeno e paracetamol é mais eficaz no controlo da dor do que o placebo (PubMed).

 

Dor em Cirurgia Oral e Contextos Específicos

Na cirurgia oral e na implantologia, a dor é esperada como resposta fisiológica, mas envolve mecanismos fisiopatológicos complexos. O controlo deve ser individualizado e orientado pelos padrões de resposta à dor de cada paciente (PubMed).

 

Ansiedade e Dor Oral

A ansiedade influencia diretamente a perceção da dor em contexto odontológico. A literatura evidencia que estratégias combinadas - farmacológicas e não farmacológicas (como terapias cognitivo-comportamentais, técnicas de distração ou música) - proporcionam melhores resultados no controlo da dor (PubMed).

 

Revisões e Tratamentos Emergentes

Em periodontologia, análises recentes reforçam a importância de personalizar os protocolos (anestésicos, anti-inflamatórios ou combinados), considerando fatores como idade, tipo de procedimento e ansiedade do paciente, para garantir maior conforto e eficácia (PubMed).

Na odontopediatria, têm surgido novas abordagens para tornar a anestesia mais confortável, como sprays intranasais, jet injectors e dispositivos vibratórios, que apresentam resultados promissores na redução da dor e da ansiedade em crianças (PubMed).

Em situações de dor oral aguda, o uso de metoxiflurano inalatório tem sido estudado como alternativa de alívio rápido, embora ainda seja necessária mais investigação antes da sua adoção generalizada (JOMOS).

 

Referências Principais

  • Labanca M. Orofacial Pain and Dentistry Management – diagnóstico diferencial (PMC)

  • Green VG et al. Guidelines for pharmacologic management of acute dental pain (2025) (ScienceDirect)

  • Carrasco-Labra A et al. ADA clinical guideline for acute dental pain in children (2023) (JADA)

  • Raja J et al. Anxiety and Pain Management in Dental Patients (2025) (PubMed)

  • Remi RV et al. New approaches to pain control in pediatric dentistry (2023) (PubMed)

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